segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Duplo Reconhecimento

Lúcia demorou um pouco para notar Dona Flora. Havia entrado na loja de roupas de cama com o objetivo certo de comprar aquele jogo de lençóis, somente e nada mais que ele. Blindara seus olhos e ouvidos contra qualquer oferta sedutora, dessas que fazem a cliente comprar o dobro do que planejara e ainda sair achando que economizou.
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Toda a preparação foi logo desarmada. Dona Flora, uma senhora magrinha e baixinha, de cabelos pretos e anelados, pouco abaixo do queixo, aparentava ter tido uma criação sem riqueza material. Não usava óculos. Muito gentil e educada, sim, mas havia algo mais. Admirada, Lúcia percebeu que Dona Flora portava-se com a "distinção natural" de uma alma que conhece o seu valor, assim como o de outrem. Poderia certamente ter sido uma rainha em vida anterior, tamanha a serenidade e dignidade que sua presença trasmitia.
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Encantada e tocada, Lúcia pôs-se a devanear sobre a auspiciosidade daquele encontro, afinal não é sempre que se esbarra com uma rainha em pleno shopping center. E quando já concluíra a compra e preparava-se para se despedir e seguir seu rumo, ouviu de Dona Flora as seguintes palavras:
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"Moça, você é muito simpática, viu? Um amor de pessoa. É tão bom quando a gente atende alguém assim. Claro que atendemos todo mundo bem, mas tem pessoas que dão gosto! Foi um prazer, viu?"
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Lúcia sorriu largo, agradeceu muito e foi embora. Não devolveu o elogio na mesma medida e nem contou sobre o que estivera pensando minutos antes, por receio de parecer forçada... Mas saiu da loja feliz da vida.
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*Baseado em fatos reais.