segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Língua Estrangeira

Morar em outro estado - e ainda mais um estado tão distante da terrinha - expõe a gente a diferenças linguísticas que podem ser bem marcantes.
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Começando pelos nomes das coisas:
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- canjica aqui é curau e mungunzá é que é canjica
- viajar na maionese ou dar uma de doido é pular o correguinho (ou "corguinho", no melhor goianês")
- alesado é passado
- girador é balão
- pirangueiro tem escorpião no bolso
- aqui você vai "na" fulana, e não na casa dela
- você também liga "no" setor x, e não para ele
- oxe é uai
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E por aí vai.
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Mas o mais interessante é a naturalidade com que o "estrangeiro" - como eu e as minhas amigas de fora - vai pegando o jeitinho local de falar. No começo, resistêêêência. Insistia nos meus susbstantivos, adjetivos e expressões de origem. Resultado? Falhas de comunicação - porque, não é brincadeira, nem todo mundo sabe como os recifenses falam, sabiam?!? Foi uma grande revelação para mim, rsrs!
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Em seguida, comecei a falar "diferente" por achar necessário à comunicação e passei a me divertir com isso. Era como falar uma língua estrangeira e eu adooooooro aprender línguas estrangeiras.
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Mas... não é que hoje o "trem" sai sem esforço?? Quando dou por mim, estou falando de maneiras que JAMAIS pensei que iria aceitar. Agorinha mesmo, pratiquei "a morte do presente do subjuntivo". É uma das variações linguísticas daqui que mais me dão arrepios, rsrs!
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Explico:
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Norma culta: "Você quer que eu te LEVE em casa?"
Variação local: "Você que eu te LEVO em casa?"
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E é isso aí. Aqui não existe o presente do subjuntivo. Ele morreu. E eu, que sempre resisti bravamente a isso, acabei de explicar ao segurança do trabalho que "precisa que alguém "abre" a sala" e só me dei conta do que estava dizendo quando as palavras já tinham sido pronunciadas... Ai, ai...
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Mas calma. Isso provavelmente foi apenas um "estrangeirismo" de minha parte. Certamente não se tornará um hábito linguístico, já que a "morte do presente do subjuntivo" não desce redondo, meeeeeeesmo, rsrs!
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Aqui também ocorreu a "morte do pronome reflexivo". Em Brasília não há verbos reflexivos. Ninguém "se forma" em Direito, por exemplo. Você simplesmente "forma". Niguém também "se dá conta", nem "se penteia", muito menos "se barbeia". Você apenas "dá conta", "penteia" e "barbeia". Rsrs!
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Depois de morar aqui, percebi o valor de cada sotaque, cada variação liguística. Aqui se ouve de tudo em um só dia, todos os dias. Aprende-se um pouco com todos e aprende-se, mais que tudo, a respeitar a todos. Afinal, também tenho um sotaque bem acentuado e na minha terra também são cometidos "erros" gravíssimos em relação à variação culta do português. Possor rir, claro, das variações dos outros, mas candidamente... Nunca achar que o meu jeito de falar é melhor ou que os "erros" praticados na minha terra são "menos errados". Acho até que é por simpatia às pessoas que fui pegando o jeitinho daqui. Percebi que não era "errado", mas apenas diferente...

4 comentários:

  1. Eu digo logo que sotaque bonito é o meu!!

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  2. Tem coisa pior. Em sua família, em Recife, tem uma irmã sua ficando "de cara" de vez em quando. Juro. Ela ainda não ficou "de boa", mas acho que é questão de tempo...

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  3. Só queria dizer que, até hoje, nunca fiquei "de boa", rsrs!

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  4. AMEI!

    Esse post realmente reflete tudo que já senti morando fora de REC... Complicada a resistência desse Brasil inteiro em falar Pernambucanês ;-)

    Beijo

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