Ontem à noite fiquei, mais uma vez, boquiaberta com um quadro que se repete por vezes demais aqui, nesta cidade onde vivo há 6 anos e 8 meses. Nesse quadro, uma pessoa assiste, com aparente indiferença, enquanto outra passa por um "aperto" de tamanho pequeno a moderado. Nos casos, o espectador do "aperto" poderia, sem grandes esforços e nenhum prejuízo para si, livrar ou aliviar o colega ser humano de alguma chateação, mas, por algum motivo que me foge completamente à compreensão, o movimento não acontece. É como se a situação do outro simplesmente não acendesse, em quem apenas assiste, nenhuma fagulha de desejo de ser útil. É como uma apatia social.
Na terra de onde vim, a situação é bem diferente. Lá, a simples visão de um garrafão d'água dentro do meu carro, por exemplo, é suficiente para que o porteiro saia (às vezes correndo) de onde estiver e venha me oferecer auxílio. Também não é preciso pedir ajuda a ninguém com algum excesso de compras, os próprios vizinhos são os primeiros a agir. Parece haver, nessa cultura, um prazer embutido na realização da pequena boa ação que, por si só, é suficiente para impulsionar quem a pratica.
Suponho que precisaria de mais tempo vivendo aqui, nesta cidade, para realmente compreender o que é que (des)motiva as pessoas a agirem dessa forma. É como se um instinto social natural tivesse sido contido há tanto tempo e por tantas pessoas, que tornou-se regra não interferir na vida do outro, mesmo que seja para ajudar.
Pois ontem à noite estava em casa, quando ouvi a buzina insistente de um carro. Vários minutos depois, a buzinação continuava e finalmente fui à janela, entender o que estava acontecendo. Vi uma mulher, com sua filha de uns 7 anos, muito irritada e já ligando para a polícia. O motivo é que ela não estava conseguindo manobrar o carro para fora da vaga, por acreditar estar "trancada" pelo veículo que estava parado atrás, a uma certa distância. Fazia ao menos 15 minutos que ela estava ali buzinando.
Da janela de casa, logo percebi que a manobra era possível, se ela recebesse alguma ajuda. Prontamente desci as escadas e me ofereci para orientá-la. Mesmo atordoada e nervosa e "certa" de que não era possível, ela concordou em tentar mais uma vez e, em menos de 5 minutos, conseguimos. Ela me agradeceu muito, foi embora e eu voltei para o meu apartamento perplexa, pois o porteiro, que a tudo assitira, não tinha esboçado qualquer reação. Se ele tivesse ajudado no começo de tudo, a moça muito teria lucrado e ele, o que teria perdido??
Solidariedade, a gente se vê por aqui! Parabéns, Amor. Você fez muito bem. É uma pena que as pessoas não tenham a mesma atitude que você teve. A moça que você ajudou provavelmente não teria feito isso por você. Parou para pensar nisso? Mas, agora, diante da sua ação, ela certamente vai parar para pensar se não poderia ser de maior ajuda às pessoas em volta e, mesmo que não ajude efetivamente, vai saber que poderia ter ajudado, né? É assim que as coisas acontecem, que as mudanças se operam! Continue acreditando na mudança e fazendo a sua parte, Amor!
ResponderExcluirDe fato, Lu. Dá até raiva do porteiro! Mas parabéns também pela iniciativa, porque não é qualquer pessoa que se dispõe a sair de casa para ajudar alguém.
ResponderExcluirOlhando o lado cômico: sou tão amarrada quanto essa mulher, rs.
É, realmente ela provavelmente não teria me ajudado, até porque isso faz parte da cultura do local, rs... :-P
ResponderExcluirRaquel, na situação em que ela estava, era muito difícil mesmo sair sem ajuda, até pra quem não é "amarrado", rs.