quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Cabala da Inveja


"Se você tem uma mulher bonita, você é um mau amigo..." (Ditado iídiche)

Estou terminando de ler um livro muito interessante, do rabino Nilton Bonder, a Cabala da Inveja. Li-o por indicação de uma grande amiga e terapeuta, pois queria saber mais sobre esse sentimento tão humano, mas tão escondido, negado, escurraçado. Engraçado como ninguém fala de inveja sem fazer uma careta, rs.

O livro, para mim, é refrescante. Discorre sobre o assunto sem meios-termos e, melhor, sem julgamentos. A inveja é vista como o que é: mais um dos milhares de sentimentos que ocorrem a TODO ser humano, sem distinção de classe ou raça, sem poupar os "bons" ou os "maus". Ri um bocado ao me identificar com várias das situações do livro. Os judeus tem uma forma divertida de tratar esse assunto, suas parábolas sobre sentimentos invejosos são hilárias.


"Uma pessoa deve sempre levar em conta os sentimentos de seus vizinhos... Portanto, se eu tivesse ido a uma feira, por exemplo, e lá viesse a obter bons resultados, conseguindo vender tudo com um bom lucro, e retornasse com meus bolsos cheios de dinheiro e meu coração palpitando de alegria, não deixaria de dizer aos meus vizinhos que tinha perdido até o último dos meus copeques - que era um homem arruinado. Assim, eu ficaria feliz e meus vizinhos ficariam felizes. Porém, se, ao contrário, tivesse perdido tudo na feira e trouxesse comigo um coração angustiado, teria o cuidado de dizer aos meus vizinhos que nunca, desde que D'us criou as feiras, houve uma tão maravilhosa como aquela. Vocês me entendem? Sim, pois assim eu me sentiria muito infeliz e meus vizinho também, junto comigo..." (Sholem Aleichem)

O que mais apreciei nesta leitura foram as dicas sobre como evitar que uma situação de ódio cresça. Sim, ódio, pois para Nilton Bonder, a inveja está na esfera do ódio. A palavra é forte, mas Bonder classifica como geradores de ódio toda raiva, ressentimento e mágoa. Ele explica a diferença entre ódio "simples", revanche e rixa e deixa claro: a vítima do ódio tem um papel mais crucial no tamanho final da disputa do que o que primeiro atacou. É uma percepção valiosa, pois ao sentir-me lesada por alguém, sempre me achei no direito de rebater com igual ou maior força, sem entender porque é que isso aumentava o meu próprio mal-estar, em vez de aliviar...

No fim das contas, fiquei com a impressão de que, como todos os sentimentos, a inveja é inevitável, assim como a geração de ódio em torno de nós. Afinal, nem sempre podemos evitar que nossas atitudes ou sentimentos incomodem os nos que nos cercam, assim como não podemos (nem devemos) negar quando aquela pontinha de inveja/raiva simplesmente surge dentro de nós. Estamos o tempo todo pisando nos calos uns dos outros, mesmo sem saber, e também sendo pisados. Mas podemos agir com mais consciência ao lidar com as situações que ocorrerem. Para isso, é importante saber reconhecer os sentimentos em nós mesmos, sem medo ou vergonha, para que assim possamos ajudar o mundo e ao próximo. Como diz o Bescht (século XVIII - A Cabala da Inveja, página 137):

"Quando alguém enxerga faltas em outra pessoa e passa a não gostar dela em função destas fraquezas, certamente possui algo destas mesmas faltas em si próprio. Portanto, repreenda primeiro a si próprio por enxergar faltas e, só então, estando você mesmo num estado de relativa impureza, repreenda o outro. Desta maneira, você não odiará o outro, mas terá carinho por ele. Quando você o repreender, isto se dará a partir de uma atmosfera de carinho. Assim, esta pessoa tornar-se-á afeiçoada a você, vinculando o que há de bom nela com o que há de bom em você."

Sendo uma leitura muito detalhada e rica de conceitos novos, ao menos para mim, sei que precisarei reler para melhor aproveitar o livro. Mas recomendo demais a quem se interessar por conhecer sobre a sombra humana.


*Todas as citações deste post foram extraídas do livro A Cabala da Inveja.

Um comentário:

  1. Muito legal, Amor. Depois que você reler, quero dar uma lidinha também. :D

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