segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O louco da praia

No último final de semana, vi um louco na praia.
 
Era um homem magro, por volta dos 40 anos, que parecia estar interagindo com alguém. Pelo que pude interpretar, ele estava se sentindo hostilizado por essa pessoa/coisa e tentava se defender, abaixando-se, colocando as mãos diante de si, tentando dominar a situação, de alguma forma. Depois ele correu bastante, olhando para trás, então parou mais longe e, aos poucos, voltou para onde estava no começo, bem na minha frente.
 
Ao ver o louco na praia, pensei nas brincadeiras das crianças. Elas também têm diálogos elaborados com seres imaginários, com quem brincam e brigam. Os filhos únicos devem ser especialistas em criar suas companhias invisíveis. Como os loucos, as crianças se perdem em sua imaginação durante horas a fio e, às vezes, por pura inexperiência de mundo, acreditam piamente no que criam.
 
Dos loucos, entretanto, sinto pena. Me entristece imaginar sua dificuldade de comunicação com as outras pessoas. Não deve ser fácil conviver com tanta incompreensão. Imagine como seria se as suas angústias sempre fossem recebidas com incredulidade, risos, ou com a aplicação de alguma droga para acalmar você. Imagine como deve ser nunca sentir-se próximo a alguém, nunca ter a sensação de cumplicidade, que advém do sentimento de compreensão mútua. Não ser levado a sério e nem ter autonomia sobre a própria vida. Ou, como no caso do louco da praia, ficar solto pelo mundo, lutando contra seres perigosos, por vezes pondo em risco a própria vida.
 
Diferentemente das crianças, os loucos não podem esperar um dia aprender sobre a realidade. Seus monstros não deixarão de existir dentro de 3 ou 4 anos. Também a sua inclinação a mergulhar na irrealidade de suas mentes jamais será voluntária, como o é para as crianças. Os loucos não têm escolha.
 
Porém, a despeito de sentir pena do louco, não pude deixar de perceber uma certa familiariedade em sua condição. Afinal, nós, "não-loucos", também nos encontramos enredados em nossos próprios pensamentos, nossos sentimentos ameaçadores, contidos ou não, lutando contra nossos "monstros", que podem estar projetados no mundo exterior, na figura de um chefe chato, de uma grande injustiça da vida ou de uma simples semana chuvosa nas férias. Nossa comunicação é precária, esparsa, ineficiente, em nossos relacionamentos. Nos sentimos incompreendidos e isolados mesmo ao lado dos que mais amamos.

Afinal, não somos tão diferentes assim do louco da praia.    
   

Um comentário: